[por Ana Paula Melo]
“A Umbanda é uma religião absolutamente aberta que têm inúmeras diferenças de interpretação, que variam de região para região assim como de terreiro para terreiro. É com a ritualística que nos identificamos, ou não, num primeiro momento, mas devemos lançar um olhar mais profundo e examinarmos melhor os objetivos da Casa. Para um terreiro poder se dizer de umbanda, lá deve haver amor, compromisso com o próximo, caridade abnegada, um trabalho constante de solidariedade, disciplina, respeito e estudo.” (Iassan Ayporê Pery)
A história da Umbanda no Brasil começa no início do século XX, em Niterói, Rio de Janeiro, com um jovem de 18 anos chamado Zélio de Moraes. Zélio, estava paralítico quando sentou em sua cama e disse que no dia seguinte estaria curado. E assim aconteceu. Admirados com o acontecido, os pais do rapaz o levaram à Federação Espírita de Niterói, no dia 15 de Novembro de 1908.
Ao ser chamado para sentar-se a mesa, Zélio de Moraes relata que de repente pronunciou a seguinte frase: “Falta uma flor nesta mesa; vou buscá-la”. Colocando-a ao centro da mesa, indagou sobre o motivo de alguns espíritos que se apresentavam como negros e índios serem proibidos de se manifestar. Após saber que eram julgados como espíritos atrasados, disse: “Se julgam atrasados os espíritos de pretos e índios, devo dizer que amanhã estarei na casa deste aparelho para dar início a um culto em que estes pretos e índios poderão dar sua mensagem e, assim, cumprir a missão que o plano espiritual lhes confiou. Será uma religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve existir entre todos os irmãos, encarnados e desencarnados. E se querem saber meu nome que seja este: Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque não haverá caminhos fechados para mim.”
No dia seguinte, compareceram muitas pessoas para assistir o novo culto. O caboclo das Sete Encruzilhadas então se manifesta, sendo esta a primeira sessão de Umbanda na primeira Tenda de Umbanda chamada, Nossa Senhora da Piedade. “Dais de graça o que de graça recebestes”, pronunciou o Caboclo das Sete Encruzilhadas, determinando que os trabalhos deveriam ser sempre gratuitos. Com a simplicidade das vestes brancas, os trabalhos continuaram pela caridade. 10 anos depois, o Caboclo das Sete Encruzilhadas anunciou que deveria ser criados 7 templos de Umbanda e assim a Umbanda começou a se expandir pelo Brasil.
Segundo Zélio de Moraes, seu guia havia inicialmente nomeado o novo culto de ALABANDA (Alá: Deus em Árabe e Banda: do lado de.). Mas no ano seguinte mudou para AUMBANDA, sendo que AUM também significa Deus, mas em grego. Logo, o nome passaria a ser Umbanda.
Assim, em nome de sua história, “Espiritualidade e médiuns unidos precisam mostrar a umbanda como ela realmente é, sem as máscaras que lhe impuseram. Mostrar a simplicidade com que se revestem seus ensinamentos, mostrar que a umbanda, apesar de a fazerem enigmática, não tem mistérios, dogmas ou segredos. Ela é natural. Ela é a própria natureza na sua essência. É o cheiro das ervas maceradas que impregnam com seu perfume as mãos do médium e com as quais o guia incorporado retira miasmas condensados na aura do filho de fé. É a fumaça do braseiro que desintegra as energias nefastas do ambiente. É o rosário do preto velho feito com lágrimas de Nossa Senhora, é a psicologia simples da mãe preta. É o assovio do caboclo chamando os espíritos da mata para socorrer e curar. É a força justa do guardião que nos defende, nos direciona, ou carrega nos braços nas travessias perigosas da vida.
Umbanda se mostra na simplicidade da roupa branca e nos pés descalços. É a alegria de servir cantando, louvando os Orixás. É mente aberta. É o respeito por todas as crenças. É a caridade incondicional. É como a mãe que ama o filho e por isso educa, acalenta, mas principalmente instrui.
Porém umbanda não é brincadeira, não deve servir de chacota nem de bengala. É coisa séria para gente séria. Umbanda não está aí para passar a mão na cabeça de quem não tem cabeça. Umbanda não é milagreira e não comercializa a fé ou a magia. É nosso dever conhecer, estudar e, principalmente, esclarecer as pessoas sobre a nossa religião para que possam diferenciar não mais confundir e, sobretudo respeitar. Saravá, Umbanda”.
Mas então a Umbanda tem apenas pouco mais de 100 anos? Bem, nossos guias espirituais sempre nos dizem que a Umbanda é milenar. Segundo a fonte pesquisada, é preciso então fazer aqui uma separação. O Movimento Umbandista sim, ele nasceu há pouco mais de 1 século com a mensagem do Caboclo das Sete Encruzilhadas, como vimos. Contudo, há outro movimento, descrito, por exemplo, pelo espírito Yamunisiddha Arhapiagha, conhecido como AUMBANDAM, ou UMBANDA. Eles não são a mesma coisa, e ainda está longe de ser. Mas o Movimento Umbandista que conhecemos hoje e fazemos parte é a tentativa de reviver aqueles valores. AUMBANDAN é o nome dado ao movimento de conexão da antiga Raça Vermelha, povo muito espiritualizado que habitou há milhares de anos a região que hoje é o Brasil, ao que era divino. Mas não simplesmente isso. Nas palavras de Yamunisiddha Arhapiagha: “Assim, AUMBANDAN é a síntese ou reunião entrelaçada de todo conhecimento ou gnose humana. […] Ele é o próprio elo vivo entre o que é espiritual e o que é do reino natural, ou seja, em sentido abrangente, é a porta, é o veículo de retomo ao cosmo espiritual e ao encontro de nosso karma causal”. Mas isso já é assunto para outro momento!